quinta-feira, 18 de julho de 2019

Entenda por que governos do mundo todo estão incomodados com a Libra

Libra Facebook

A criptomoeda do Facebook ainda nem entrou em operação, mas seu anúncio já causa rebuliço pelo planeta

Após todas as polêmicas e escândalos relacionados a privacidade dos últimos anos, o Facebook é hoje uma das empresas mais enroladas com governos no mundo. Em vez de se manter afastada de novos transtornos, a companhia decidiu se envolver em mais um plano que já está trazendo novas dores de cabeça: a criptomoeda Libra.
Revelada em junho, a moeda só deve começar a circular a partir de 2020, com a promessa de facilitar transferências monetárias entre pessoas, mesmo que estejam em países diferentes. Desta forma, o Facebook e seus parceiros seriam capazes de cobrar tarifas muito inferiores às que o mercado já cobra.
No entanto, antes de entender o motivo de o projeto ser tão polêmico, é necessário entender o que é o projeto e como ele funciona.

O que é a Libra?
No mês passado, o Facebook anunciou a Calibra, uma subsidiária que terá como meta desenvolver uma carteira digital para a Libra, a criptomoeda, e que será incorporada a aplicativos como o WhatsApp para viabilizar transferências e pagamentos. Também foi criada a Libra Association, grupo que reúne várias outras empresas de grande porte além do Facebook, que terá a missão de apoiar a difusão da moeda. Entre elas estão Uber, Mastercard, Visa, eBay, PayPal, Spotify e MercadoPago, para mencionar apenas os nomes mais conhecidos aqui no Brasil.
Os membros da fundação terão como uma de suas responsabilidades participarem do blockchain que sustentará a Libra, operando um dos nós necessários para sustentar a rede. Isso significa que eles deverão dedicar poder computacional para validar as transações que envolverem a criptomoeda, para garantir que nenhuma anomalia aconteça, como, por exemplo, um usuário transferir R$ 10 para outro sem que a quantia seja debitada de sua carteira.
A ideia do Facebook com esse projeto é alcançar especialmente as pessoas que já têm smartphones, mas não tem acesso a serviços bancários, efetivamente servindo como uma alternativa ao dinheiro para pagamento por bens e serviços e transferências entre usuários.

No que ela é diferente da Bitcoin?
Se você não se escondeu numa caverna nos últimos três anos, pode ter visto a montanha russa da Bitcoin e outras moedas similares. O sobe e desce de valor desenfreado fez com que as criptomoedas se tornassem um investimento de alto risco, dificultando o seu uso para troca por bens e serviços, que deveria ser a função primária de uma moeda. Afinal de contas, um vendedor não quer vender um produto por, digamos, R$ 10 e descobrir que esse dinheiro está valendo R$ 7 no dia seguinte. Da mesma forma, alguém pode pensar duas vezes antes de fazer uma compra se imaginar que seus R$ 10 podem estar valendo R$ 13 no dia seguinte.
Essa volatilidade é um obstáculo para adoção da criptomoeda como moeda, o que fez com que o Facebook e seus parceiros desenvolvessem uma “stablecoin”, o que, como o nome indica, tem valor estável, o que a torna mais interessante como meio de pagamento e menos como um investimento.
Para isso, foi necessário ir contra um dos pilares da Bitcoin e similares que não têm qualquer lastro, o que faz com que seu valor seja definido unicamente pelo quanto seus usuários acreditam que ela vale. A Libra tem, sim, seu valor vinculado a alguma coisa no mundo real: outras moedas, como dólar, o euro, o franco suíço, o iene e a libra esterlina.
Neste sentido, a Libra Reserve é fundamental para conseguir manter esse projeto de moeda estável funcionando. Quando alguém troca o seu dinheiro pela Libra, a quantia vai direto para esse fundo, que serve como lastro para as moedas em circulação. A associação prevê o ajuste da composição dos bens ligados a este fundo de forma dinâmica para balancear o valor da criptomoeda e evitar grandes variações de preço.
Uma outra diferença importante para a Bitcoin é o fato de que a Libra não é totalmente descentralizada. Enquanto a Bitcoin permite que qualquer um opere seus próprios nós e participe do blockchain da moeda, apenas os membros da Libra Association vão operar os nós da criptomoeda do Facebook, o que significa que a verificação e validação das transações estarão nas mãos de um grupo consideravelmente menor de organizações. Os críticos apontam que essa centralização pode facilitar a censura e ataques cibernéticos contra a rede.

E por que há tantos governos atacando a Libra?
Governos pelo mundo nunca foram exatamente fãs das criptomoedas, e em múltiplas vezes já tomaram ações para regulamentá-las ou proibi-las completamente em seus territórios. Quando o Facebook está envolvido, a reação tende a ser mais forte, por vários motivos.
Não há como negar que o Facebook é gigantesco, com mais de 2 bilhões de usuários diários espalhados pelo mundo. Na prática, se a Libra cair no gosto dos usuários, ela poderia de fato se tornar um sistema financeiro internacional à parte, com um alcance muito maior do que qualquer outra moeda, o que fez com que até mesmo Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, se manifestasse contra a proposta, temendo o enfraquecimento do dólar, que ainda é a principal referência para transações internacionais.
No Reino Unido, a Autoridade de Conduta Financeira também fez seus comentários sobre o assunto, afirmando que até o momento o Facebook não ofereceu detalhes suficientes sobre a Libra. Desta forma, a organização vai estudar com o ministério da Economia e o Banco da Inglaterra qual é a ação a se tomar em relação à criptomoeda. Já a Índia já havia banido criptomoedas no país, e o anúncio do projeto já deixou as autoridades locais incomodadas, mesmo com a escassez de detalhes.
Existe um temor claro também com privacidade, já que o histórico do Facebook depõe contra a companhia. Afinal de contas, se a Libra realmente ganha fôlego, a empresa poderia manter um histórico de transações do mundo inteiro. A companhia enga que tenha esse interesse, no entanto, afirmando que as negociações serão gerenciadas pela Calibra, e não pelo Facebook, e que os dados não seriam misturados com as informações da rede social. A questão é que hoje em dia é difícil confiar que a empresa de Mark Zuckerberg manterá sua palavra, mesmo que David Marcus, que comanda a Calibra, negue qualquer interesse em misturar as coisas.
Por fim, como sempre é o caso com as criptomoedas, há o temor de facilitação de negócios ilícitos, como tráfico de drogas, já que é mais difícil rastrear de onde vem e para onde vai o dinheiro. De fato, a Bitcoin e outras criptomoedas são amplamente utilizadas para pagamento de serviços e produtos ilegais na Deep Web, mas sua operação não está limitada a esses usos. A empresa, no entanto, diz estar desenvolvendo maneiras de impedir o uso da Libra para lavagem de dinheiro e pretende disponibilizar o histórico de transações para autoridades a fim de minimizar a utilização de sua moeda para fins ilegais.

Fonte: olhardigital.com.br

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